Educação

Atividades mensais apresentam a cultura afro-brasileira em escolas

A cada dia 20 do mês, projeto trabalha personalidades negras com alunos das séries iniciais

Foto: Italo Santos - DP - Crianças debatem o tema com orientação de professores

Por João Pedro Goulart
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(Estagiário sob supervisão de Lucas Kurz)

À medida que se aproximava o 20 de novembro - Dia da Consciência Negra, no Brasil -, professoras de escolas de ensino fundamental de Pelotas se questionavam da razão da correria dos colegas alfabetizadores para encontrarem pessoas que iriam à escola tratar da data comemorativa. O motivo do questionamento tem embasamento jurídico. De acordo com a Lei 10.639, que agora completa 20 anos, fica estabelecida a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro das disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos fundamental e médio. Portanto, essas questões não deveriam ser trabalhadas apenas no dia 20 de novembro, e sim durante o ano inteiro.

A partir disso, as professoras Geneci Ávila e Josiane Dias uniram esforços e criaram um projeto mensal nas escolas onde instruem alunos das séries iniciais. Elas sugeriam que todo dia 20 de cada mês letivo fosse separado especialmente para tratar de questões de cunho racial com os estudantes. A ideia, então, tomou corpo. Sendo elaborada ainda no ano passado, e com a soma de mais uma professora que se interessou, Regina Santos, em 2023, cinco escolas aderiram completamente ao projeto e tornaram a dia 20 de cada mês data padrão para a prática do conjunto de atividades. São escolas onde as professoras atuam: EEEF Prof.ª Ondina Cunha e Emef Afonso Vizeu, onde Geneci leciona; e Emef Círculo Operário Pelotense e Emef Nossa Senhora do Carmo, atendidas por Josiane; além de Emef Santa Irene, onde Regina trabalha.

Geneci Ávila, 48 anos, professora de séries iniciais e fundadora da iniciativa, conta que em uma das datas, na Escola Ondina Cunha, foi estudado com os alunos o Giba Giba, conhecido como “guardião do Sopapo”. Uma exposição de telas pintadas pelas crianças foi feita na Prefeitura. “Aqui na escola eu trabalhei bastante sobre o Sopapo, sobre as bonecas negras, sobre a Constituição e os direitos, o Egito [...] desde fevereiro”, explicou. Ela ainda diz que em cada escola os temas trabalhados são diferentes, preferencialmente figuras do Rio Grande do Sul ou Pelotas, mostrando uma pluralidade de conhecimentos existentes sobre essas questões.

Ela diz que o projeto acontece com o auxílio de todos, da direção das escolas aos pais das crianças. “A escola é pública. Os pais também abraçaram o projeto. Tem horas que precisamos de materiais. A direção da escola também, nessa ação do Sopapo, abraçou e comprou as telas. Pais nos ajudaram com o banner, para expor. Conseguimos a ajuda de uma professora de artes para vir à escola explicar como se usa uma tela, porque eu não sabia usar uma tela”, relatou. Segundo a professora, os pais receberam bem as ideias do projeto e outros professores já estão entendendo os motivos e a importância de trabalhar a cultura afro para além do dia 20 de novembro.

Para a professora, é perceptível a mudança de visão nos alunos. Estudantes do pré ao quarto ano estão muito mais críticos, defendem a cultura negra e sabem citar as leis. “Uma aluna da outra escola, do terceiro ano, perguntou se eu já tinha sofrido racismo. Porque eles ainda têm o professor sem a cor. Mas eles se deram conta que eu tenho cor. Ficaram muito surpresos quando eu comecei a contar algumas situações que eu já passei. [...] Contei que uma vez perdi um emprego porque a dona da escola, que era particular, disse que não ia contratar uma professora negra. Eles acharam aquilo um absurdo. Então, eles conseguem se posicionar, e são crianças”, revelou Geneci.

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